segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

DE OUTRO BLOG...

QUINTA-FEIRA, 10 DE JANEIRO DE 2013

Poesia

Quando começo a fazer citações é porque já bebi muito.
Gosto de beber.Tem poesia e beleza nas bolhazinhas de champanhe,em um copo de vinho que levou muito tempo para chegar ali.Um copo de cerveja espumante carrega em si a história da humanidade.
Não gosto de beber muito porque perco a referência da beleza, como não gosto de beber sempre.
Acontece,às vezes, que as citações me alcançam esponteneamente.
Hoje a beleza de uma citação me catapultou em um mundo de poesia.Uma poetisa que conheço através da uma rede social,Beatrice Nicolai, publicou uma poesia de Adélia Prado , traduzida em italiano.
Beleza em duas línguas,sensibilidade que não se perde em palavras escritas de modo diferente mas significando a mesma coisa.
Veio a vontade de embriagar-me nas palavras dessa grande mulher.É grande porque é, porque nunca teve a intenção de ser.

Peço licença para compartilhar um dos seus poemas.

Com licença poética

Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não sou tão feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
-- dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou.
Adélia Prado

Bolo do Luar...anos 30 ...os ingleses....

Entre os livros de receitas que herdei da minha avó Lola, tem um que considero uma preciosidade.

Um livrinho do fermento Royal, publicado em 1938.
É um apanhado de receitas doces e salgadas , e muitos conselhos culinários que valem até hoje.
Penso na correspondência intensa trocada por mulheres , do Brasil todo,para que o livro fosse realizado.Devia ser como uma rede social ( tipo facebook) intermediada pelo correio.
A maior parte das receitas tem créditos das suas autoras, eram mulheres que trabalhavam em escolas, institutos femininos,na Light.
Gosto muito da estética desse período, a Art-deco,o estilo das roupas,  Fred Astaire e Ginger Rogers,os filmes de Ernst Lubitsch,Acho que existia uma modernidade e elegância inocentes que foram quebradas pela II Guerra.
A influência inglesa é bastante perceptível naquele período.Bem ,como não ter essa influência se o sol ainda não se punha no Império Britânico.
As receitas inglesas tiveram seus nomes traduzidos .
Cupcake é bolo de xícara, muffins são "fofinhos",cookies são "cuques".Tudo isso é bem atual, é só fazer um giro pelas doceiras da cidade.
Ler um livro original desse período é uma experiência rica e bem divertida,o português parece uma outra língua, a ortografia nos parece absurda.
CHÍCARA
ASSUCAR.
FRUCTAS
CANELLA.
Apesar de estar comigo há muitos anos, só hoje tiver a curiosidade de fazer uma das receitas.O que me chamou a atenção foi o nome muito romântico BOLO DO LUAR.
A receita é ótima, funciona e é muito fácil.
O bolo ficou muito fofo e delicioso.Não arrisquei a fazer a cobertura sugerida.

BOLO DO LUAR

1 xícara de manteiga (150g)
2 xícaras de açucar ( 225g)
3 ovos
1 xícara de leite( 250 ml)
2 colheres de chá rasas de fermento em pó
1 pitada de sal
essência de limão ( usei raspas de 1 limão)

Bata a manteiga ,o açucar,as gemas até ficar um creme bem claro .(é fundamental bater bem esses ingredientes, para o bolo não ficar pesado ).
Junte os ingredientes secos alternando com o leite, bata bem.
Junte a essência ou as raspas.Levar ao forno a 180 graus , por +- 40 min, em forma untada e enfarinhada.

A cobertura sugerida pelo livro é "Glacé de Limão".

Casca ralada de 1 limão.
3 colheres de sopa de suco de limão
2 gemas
900 g de açúcar.

Mexa a casca e o suco de limão com as gemas.Junte o açúcar lentamente.Bata até tomar ponto de suspiro.

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Acabei de me dar conta que minha avó tinha um monte de livros de receita mas nunca a vi cozinhando.
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Voltei de Minas

Saudades de Minas Gerais

Há algum tempo ,fui para Sete Lagoas .Não esqueço essa viagem.
A acolhida,os sorrisos,a simpatia e os amigos que fiz lá.
A comida foi mais que inesquecível, pasteizinhos de padaria, pão de queijo, tutu,couve, frango com quiabo.
Não tenho coragem de publicar a receita de frango com quiabo,delícia que repeti 3,4 vezes, porque uma cozinheira mineira pode te ensinar  os ingredientes e o modo de fazer mas sem o clima, sem as panelas de ferro, sem o frango caipira de verdade, crescido em um terreiro ou quintal, não fica a mesma coisa.
E tem aquele jeitinho que não dá para imitar, uai!!!!
A memória viajou para mais longe, em 87 ou 88, um outro amigo nos levou para Leopoldina,onde comi o melhor pernil ao forno da minha vida.Torradinho por fora e derretendo por dentro...Não dá pra esquecer! Calor humano e corações abertos.

Deu saudade!!!

Na  volta, escrevi esse texto.

"Voltei de Minas há alguns dias.
Eu já sabia mas foi bom confirmar, em Minas as coisas são antigas.
As árvores são antigas, ainda tem muitas delas porque em Minas não derrubaram todas para construir estradas e um monte de condomínios modernos.
Ainda tem antigas casas de adobe e de taipa , e também muitas casas com quintais.Os quintais possuem árvores.
Lá as ferrovias ainda são estradas-de-ferro.
O calcário moído que sai de lá para construir casas pelo mundo afora deixa um pózinho branco sobre os matos,as casas , as gentes e é como uma pátina de coisas que construiram uma época.
As coisas que são antigas de verdade carregam essa pátina de vida vivida e cheia
de testemunhos da história.
A comida de lá é antiga , feita nas panelas de pedra e de ferro.Nada mais antigo que tutu de feijão cremoso e frango com quiabo feitos em panela de pedra.E a gente lambe os beiços no seu gosto de casa de avó perdida , de casa com quintal com árvore e pé de milho.Gostos e cheiros de infância que os lugares modernos não têm mais.
Minas é muito antiga na sua hospitalidade, na sua simpatia , no aconchego de um aperto de mão e de um sorriso , nos corações e casas abertas.
Que bom que as coisas de Minas são antigas.
Peço a Santa Helena e a todos os padroeiros que as gentes de Minas cresçam e que ganhem o mundo,mas peço também que nunca deixem de ser antigas naquilo que as fazem tão especial.

Obrigada aos mineiros que fizeram da minha estadia lá alguma coisa muito maior l que uma simples viagem."

refogado de toicinho ,cebola ,salsinha para fazer feijão tropeiro.

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

O Falcão Maltês e eu.

Nessa semana,a estátua do filme Falcão Maltês foi arrematada por US$ 3,5milhões em um leilão em NY.
Preço enorme para uma peça que,na história, não valia nada.Mas,como diz o personagem de Bogart, Sam Spade, era feito do material com o qual os sonhos são feitos.
Essa notícia acordou muitas memórias
Filme clássico- perfeito de John Huston,baseado no livro policial de Dashiel Hammet,o melhor de todos.
Não me lembro qual entrou antes na minha vida, o livro ou o filme, mas os dois foram o tecido com que fabriquei muitos sonhos, muitos realizados e outros que continuaram seu destino de serem apenas desejos.Sonhos que foram compartilhados com duas pessoas muito especiais na minha vida.
Uma delas , meu irmão , penso que minha paixão por filmes noir e livros policiais ajudaram a formar sua personalidade curiosa, meio filosófica, muito alternativa e controvertida,às vezes.
Meu irmão será sempre presente, às vezes muito ,às vezes quase desaparecido.
Outra pessoa, amigo mais que querido,amigo mais que inesquecível que foi perdido para que pudesse fazer sua história lá do outro lado do mundo.Não nos encontramos mais, cada um seguiu sua estrada.Ele virou cineasta, ficou famoso,segue realizando seus sonhos bem nutridos pelo cinema e pelos livros.Nossa história foi truncada pela falta de entendimento,pelos encontros desencontrados,por coisas ditas em horas erradas e por aquelas nunca ditas.O falcão maltês pode ser um símbolo desse encontro tanto desejado e, ao mesmo tempo, feito de matéria de sonhos.
Como a estátua do filme que hoje vale tanto, sua lembrança hoje tem valor alto e nenhum preço pode pagá-la.
O Falcão fez com que outros livros do gênero entrassem na minha vida, autores como Raymond Chandler que inspirou muitos outros filmes adoráveis, como À Beira do Abismo com o mesmo Bogart, fazendo o detetive Philip Marlowe....James Cain, Chester Holmes..Walter Mosley com seu diabo que veste azul.
Hammet,Chandler,Spade,Marlowe com seus diálogos cheios de princípios éticos singulares e pessoais..filmes,cenas cheias de luz e sombra,..a grande sala escura que sempre trouxe sonhos e expectativas ...litros de cerveja,balcões de bar, noites insones,irmão,amigo... fazem parte do que sou agora.E isso é muito bom!

sábado, 23 de novembro de 2013